LUGAR DE EMOÇÕES É NA ESCOLA, SIM

LUGAR DE EMOÇÕES É NA ESCOLA, SIM

04/06/2021

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Por Alessandra Gonzaga, Ph.D.

Mestre em Psicologia Clínica e doutora em Gestão de Pessoas, atua há 15 anos na área de Inteligência Emocional (IE): dirige a Conexão IE, é professora e coordenadora de programas de formação, coach e mentora. É certificada em IE pelos métodos MSCEIT (MHS/Yale University), EI Learning Systems (EITRI/Texas A&M University) e ESCI (Korn Ferry Hay Group/Harvard).


Aqueles que lecionam há bastante tempo podem lembrar de conselhos relacionados a “deixar as emoções da porta da sala de aula para fora” quando estiverem lidando com situações difíceis da vida escolar, quer sejam relacionadas aos alunos, suas famílias, colegas de trabalho, quer sejam até mesmo referentes à nossa vida pessoal. Ultimamente, no entanto, os gestores têm percebido que essa tarefa não apenas é muito difícil como também ineficaz para uma boa saúde emocional e para o processo de ensino e aprendizagem, tanto para o professor quanto para os alunos. Isso porque nossas emoções não são compartimentadas em nossas vidas pessoais – ao contrário, elas permeiam todos os nossos relacionamentos.

Nossos sentimentos em relação a nossos alunos, nossos colegas de trabalho e membros de nossa própria família ficam todos no mesmo lugar e não há como desligar um conjunto de emoções relacionados a um desses grupos quando estamos interagindo com outro. Se não podemos, então, evitar nos emocionarmos, a melhor estratégia é mesmo compreender nossas emoções, pois só mapeando a origem de nossas percepções é possível modular a intensidade das respostas emocionais. Afinal, é justamente quando somos pegos despercebidos por nossas reações que nos tornamos mais vulneráveis a elas.

Segundo Paul Ekman, especialista mundial no estudo das emoções, quando uma emoção é forte e surge repentinamente, todos os nossos sistemas cognitivos são afetados, mobilizados que somos pelas reações fisiológicas decorrentes desse evento. Essa é a razão pela qual, após uma discussão no trabalho, não temos nem mesmo clareza para explicar o que aconteceu, nos sentimos confusos e abalados e, horas após o ocorrido, podemos ainda contabilizar os efeitos físicos do estresse emocional vivenciado. Temos, no entanto, a capacidade de modificar o rumo de um estado emocional se pudermos nos mover da vontade de confirmar os motivos que tivemos para acioná-lo para, ao contrário, buscar novas informações trazidas pelo ambiente que possam suscitar também novas emoções e entendimentos. Ou seja, melhor do que ficar ruminando nossos motivos para permanecer tristes, por exemplo, é sintonizar outras visões de mundo, além da oferecida pela melancolia. Isso vale para a raiva e o medo, apenas para citar as emoções negativas mais comuns e mais básicas para vivenciarmos, mas também o ciúme e o ressentimento, tão presentes no ambiente de trabalho.

Há que se considerar ainda que, mesmo que todas as emoções nos proporcionem informações legítimas sobre o ambiente e sobre como reagimos a ele, são apenas as emoções positivas que nos mobilizam a confiar e a interagir com outras pessoas. Nossa capacidade de ver o lado positivo das coisas é também fundamental para o enfrentamento de sentimentos negativos, que são importantes não apenas para nossa análise crítica de mundo, mas também e especialmente para prevenir efeitos nocivos à saúde física, decorrentes da exposição a emoções negativas. Para lidar com essas emoções tóxicas, no entanto, não é aconselhável uma mera substituição colorida de percepção da realidade: antes disso, uma compreensão honesta de suas causas é o caminho de partida.

Nesse sentido, a saúde emocional tem muito a ver com nossa adaptabilidade aos diferentes cenários da vida e vem dessa capacidade de navegar pelas diferentes emoções sem tornar-se refém de nenhuma delas. Se as emoções surgem a partir dos diferentes eventos e interações, é natural que mudem constantemente, como a vida também muda. Por isso, manter-se apegado a um estado emocional não apenas reduz nossas possibilidades de entendimento como também limita nossa capacidade de enfrentamento dos problemas, existentes ou não.

A educação emocional e, consequentemente, comportamental tem se ampliado em todas as áreas de desenvolvimento, inclusive em escolas e instituições públicas. No Brasil, a inteligência emocional, na forma de competências socioemocionais tornou-se parte integrante da Base Nacional Comum Curricular. Além do esforço da gestão escolar em promover a adaptação de seus currículos de ensino e projetos pedagógicos, parte também dos próprios professores o reconhecimento de que, para um bom desempenho em suas aulas, o conhecimento técnico é importante, porém é fundamental a habilidade no trato com os alunos e seus pares, exercendo e promovendo o autoconhecimento, autocuidado, empatia e cooperação. Os benefícios aparecem na facilidade de comunicar ideias, na empatia em relações interpessoais, na clareza para a tomada de decisões e também na paciência em lidar com momentos pessoais difíceis, próprios e dos alunos.  Dentro e fora da vida escolar, a lição mais importante que a inteligência emocional pode nos trazer é de que melhor do que descobrir o próprio QE (quociente emocional) é explorar e aprender sobre o que é possível fazer com ele

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