TENDÊNCIAS EDUCACIONAIS PARA APOSTAR EM 2021
05/02/2020
Por Thuinie Daros
Co-fundadora da Téssera Educação, Head de Cursos Híbridos e Metodologias Ativas da Unicesumar EAD, gestora, palestrante e consultora. Já publicou diversos livros na área da educação, entre eles, A Sala de Aula Inovadora: estratégias pedagógicas para fomentar o aprendizado ativo (selo penso).
O ensino brasileiro essencialmente transmissivo – com o predomínio do uso de lousa, giz e papel, professor como detentor do conhecimento e estudante inserido em um processo de memorização e reprodução por meio de baixa ou nenhuma participação – já não é suficiente para atender às necessidades das novas gerações, além de não ser ter uma abordagem capaz de acompanhar as evoluções do mundo atual.
Nossos estudantes, cada vez mais conectados, estão deixando de utilizar a caneta e o papel para a utilização de dispositivos móveis com recursos on-line e aplicativos. Com isso, a exigência de um “professor do futuro”, com grande variedade de competências digitais, ferramentas, estratégias metodológicas, além do pleno domínio dos conhecimentos técnicos, tem sido uma necessidade cada vez mais recorrente.
O fato é que o cenário totalmente singular e restritivo ocasionado pela COVID-19 apenas evidenciou e trouxe celeridade para essa necessidade iminente de modificar os modos de ensinar e aprender.
E, com a proximidade do início do ano escolar letivo, é natural que surjam novas ideias, novos projetos e que o desejo de aplicar novas metodologias intensifique-se, em especial, neste momento ainda desafiador, decorrente das restrições que a COVID-19 poderá impor. São novos tempos: novos modelos de negócio, novos recursos, novas formas de pensar, de ensinar e de aprender, de viver e de conviver.
Para tanto, é preciso aplicar novas metodologias, novas tecnologias, novas ferramentas e técnicas capazes de gerar maior engajamento dos estudantes, proporcionando-lhes outras maneiras de acessar e de se apropriar do conhecimento de forma articulada com os objetivos de aprendizagem. Por isso, sugeri três tendências pedagógicas que serão amplamente abordadas em 2021. Vamos começar?
1. NOVAS FORMAS DE APRENDER
Qualquer tendência educacional consiste na constatação da apropriação de novos hábitos de consumo dos estudantes, os quais, consequentemente, determinam novas demandas com potencial de crescimento que serão exploradas pelas instituições de ensino. Em um cenário no qual os estudantes são altamente conectados, as instituições devem proporcionar muitos momentos de aprendizagem impulsionados pelas mídias e pelas tecnologias educacionais existentes. Para ilustrar, selecionei apenas três exemplos de novas formas de aprender potencializadas por aparatos tecnológicos que serão muito abordados em 2021. São eles: 1) Aprendizagem Telepresencial; 2) Metodologias Imersivas; e 3) Video Based Learning.
Aprendizagem Telepresencial |
Resultado de um processo de ensino e aprendizagem intencional, que ocorre por meio da reunião de professores e estudantes, conectados de forma síncrona, em uma sala de aula virtual. |
Metodologias Imersivas |
Atividades pedagógicas com foco na aprendizagem experiencial e na prática em situações reais. Em síntese, consiste em colocar o estudante para se deparar com uma situação concreta relacionada ao conhecimento que precisa ser adquirido, por meio de situações-problema ou por recursos tecnológicos imersivos, como serious games, simuladores de realidade aumentada e virtual etc. |
Video Based Learning (VBL) |
O VBL, ou também conhecido como aprendizagem assistida por vídeos, é pautado no uso de vídeos que alteram a passividade dos vídeos tradicionais, para altamente interativos. Nesse contexto, pode utilizar animações com infográficos e textos, cenários, explicação de conceitos por meio do storytelling, ou outras narrativas visuais e textuais que podem compor a explicação dos conteúdos. |
2. SALA DE AULA DIGITAL
A sala de aula digital é uma das mais promissoras tendências da educação para os próximos anos! Mas o que compreendemos sobre a sala de aula digital? Uma videoconferência com pessoas reunidas para estudar algo ou uma prática pedagógica pautada exclusivamente em recursos digitais? Não. Ser digital vai muito além do aparelhamento tecnológico. Trata-se, sobretudo, de uma mudança genuinamente paradigmática refletida na cultura e no mindset.
A sala de aula digital refere-se ao desenvolvimento das atividades previstas por meio do suporte tecnológico, as quais se integram e interconectam-se, otimizando os processos, favorecendo e intensificando a aprendizagem dos estudantes através da incorporação de soluções integradas de aprendizagem articuladas com demais setores das instituições educativas.
Em uma sala de aula digital, por exemplo, gestores, pais e estudantes conseguem acompanhar o progresso da aprendizagem em tempo real, verificando o status de tarefas pendentes no painel. Além disso, há a disponibilização de links e de outros materiais (conteúdos digitais) de enriquecimento para ajudar e impulsionar os estudos. Já os professores podem disponibilizar enquetes para feedback imediato e avaliar o engajamento e as estratégias pedagógicas ao término das atividades.
Na prática, isso significa dispor de um ensino imerso em diferentes tecnologias, em que são utilizados aplicativos, sites educacionais e outros recursos para potencializar o aprendizado dos estudantes de forma flexível, híbrida, por meio de um processo de colaboração que transcende a necessidade do espaço físico articulado com demais setores de uma instituição. Uma sala de aula física pode ser tão digital como uma sala de aula virtual!
3. DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DAS COMPETÊNCIAS DO PROFESSOR DO FUTURO
No decorrer do processo histórico, o professor era visto como uma fonte inesgotável de conhecimento. Para ser considerado um bom professor, o profissional deveria ser minucioso ao que se propunha a ensinar aos alunos. Embora isso (ainda) seja verdade, a responsabilidade do professor não se limita apenas a transmitir seus ensinamentos, mas também a se adaptar a formas mais novas de aprendizagem existentes.
Nesse sentido, a ideia da definição do PROFESSOR DO FUTURO nada mais é do que a representação do que se espera da sociedade do futuro, ou seja, as competências e as habilidades que esse professor precisa possuir ou desenvolver profissionalmente.
É importante destacar que, em cada momento histórico, temos expectativas sobre os perfis profissionais da educação, e isso está intimamente relacionado à concepção de sociedade, ou seja, aquilo que se almeja no âmbito do modelo de sociedade.
Nós já idealizamos o professor tradicional como o professor do futuro em algum momento do passado, mas hoje esse perfil não atende mais às demandas educacionais justamente porque a sociedade mudou.
Estamos observando diversas instituições de ensino no mundo focadas na transformação dos seus processos de ensino, fornecendo experiências digitais, modelos cada vez mais híbridos, fomentando a inovação e a criatividade por meio de uma arquitetura educacional que promova experiências mais ativas e significativas para os estudantes, a fim de estimular o protagonismo estudantil.
O perfil tradicional de transmissão do conteúdo foi importante em um momento em que não tínhamos tantos recursos como temos hoje. Com a utilização da automação, com a transformação e com a obsolescência contínua de habilidades, as instituições educativas já perceberam que fornecer uma experiência de aprendizagem digital é uma alternativa capaz de promover um aprendizado contextualizado, significativo e centrado nas pessoas.
Com o uso da tecnologia para ensinar, a garantia de que os professores possam atualizar suas habilidades, a mudança das salas de aula tradicionais, a criação de salas de aulas digitais e um ambiente em que os estudantes possam aprender o que realmente é relevante, espera-se que o cenário educacional no Brasil acomode novas tendências e suba de nível para permanecer em destaque nos tempos de mudança. Por isso, o desenvolvimento profissional será uma tendência relevante para 2021 e permanecerá nos próximos anos.
As tendências educacionais apresentadas geram impacto na vida dos professores e dos estudantes, influenciando-os a aprenderem mais e melhor, dando-lhes a chance de desenvolver seu conjunto de habilidades e de aumentar, ainda mais, o seu repertório de possibilidades.
Adaptar-se às novas condições e aos novos comportamentos de aprendizagem será o maior desafio da educação para 2021. Por isso, como profissionais da educação, precisamos criar condições de reinventar o ambiente de aprendizagem, possibilitando experiências de qualidade na educação presencial, on-line ou híbrida.