9ª EDIÇÃO DO INTELIGÊNCIA COLETIVA ACONTECEU EM 22 E 24/04

30/04/2021

9ª EDIÇÃO DO INTELIGÊNCIA COLETIVA ACONTECEU EM 22 E 24/04

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Nos dias 22 e 24 de abril, a 9ª edição do Inteligência Coletiva contou com mais de 800 educadores de 18 estados brasileiros. Com o tema “O que permanece na educação em tempos de mudanças?”, o evento on-line teve dois painéis, sete workshops e 14 relatos de experiência.

Na noite de quinta-feira, 22, o painel de abertura com Telma Vinha, Josélia Fraga e Marícia Ferri trouxe para discussão o tema geral do evento, provocando os participantes a refletirem, nesse momento de transformações, sobre o que fica e o que é, de fato, fundamental para o desenvolvimento do ser humano. 

Já na manhã de sábado, 24, Tiago Tamborini, Francielly Rodrigues, Ghandy Piorski e Luciene Tognetta foram os convidados do painel “Diálogos sobre educação integral e humanizadora”, abordando os quatro eixos complementares à temática geral do evento: Autoconfiança; Curiosidade; Imaginação; e Empatia e Responsabilidade Social. Após o painel, os participantes do evento dividiram-se nas salas dos workshops e relatos de experiência.

Confira alguns dos tópicos abordados por cada painelista:

TELMA VINHA

Em sua fala, Telma, que é professora e pesquisadora da Faculdade de Educação da Unicamp, abordou as mudanças na sociedade contemporânea pós-moderna para ilustrar os desafios que as escolas têm na formação dos futuros adultos, abarcando, também, as transformações decorrentes da pandemia e discutindo sobre o que será necessário mudar, na educação, para esse novo cenário.

Ao falar sobre o processo educativo, destacou que este acontece a partir da relação humana entre pessoas de diferentes gerações e que a geração que está atualmente nas escolas é muito diferente das anteriores. Destacou o fato de que mesmo sendo nativos digitais, as crianças e adolescentes de hoje não são essencialmente sábios digitais e precisam de suporte para entender criticamente esse mundo conectado, espetacularizado, de hiper oferta e hiper exposição da vida.

Embasada em  autores contemporâneos, alertou para o fato de que as consequências dessa nova forma de viver, repleta de possibilidades e onde cada um tenta o tempo todo dar o máximo de si em todas as áreas da vida, não são sentidas apenas pelas crianças e adolescentes, mas também por adultos.

Ao falar sobre o período pandêmico,  destaca alguns dos problemas que a nossa sociedade já tinha, sendo um deles o cansaço. E, ao falar sobre a fadiga provocada pelo longo tempo em pandemia, lembrou as faltas que ausência de contato humano ocasionam, inclusive dos “laços fracos” (o contato com pessoas do cotidiano, mas que não são próximas, como um atendente da padaria ou a pessoa que encontramos sempre no ônibus).

Finalizou a fala lembrando que a educação é relação humana, que para os processos de ensino e aprendizagem ocorram é fundamental considerar as condições concretas (espaço, acesso, etc) e socioemocionais dos alunos e que o vírus é, também, um chamado urgente para mudança do nosso modo de vida e de sociedade.

JOSÉLIA FRAGA

Secretária de Educação de Santo Antônio da Patrulha, Josélia trouxe para o painel o contexto da educação pública. Ao abrir sua fala, destacou que historicamente a educação pública nunca foi prioridade e que, quando a pandemia chegou, sobrepôs novos problemas aos velhos desafios da educação.

Segundo a educadora, esse cenário gerou bastante angústia e ansiedade para os professores, que se viram afastados de tudo aquilo que lhes era comum: a proximidade com os estudantes, a estrutura das escolas, a troca com os pares. Diante desse contexto, e para superar a realidade caótica, Josélia destacou que foi preciso construir um equilíbrio interno, buscar uma estabilidade emocional e que, ao encontrá-la, foi possível começar a perceber os ganhos e tirar o foco das perdas.

A especialista ressaltou ainda acreditar que, de todas as áreas, será a educação a que mais vai sofrer modificações, a que mais irá se transformar. E, ao refletir sobre o que irá permanecer na educação após a pandemia, destacou cinco pontos: a questão tecnológica, a autonomia das crianças, a importância da parceria entre famílias e escolas, um currículo focado no que é essencial e a importância dos professores.

Josélia finalizou sua fala, que foi repleta de dados e cases que retratam a realidade das escolas públicas, revelando ter um medo e um sonho acerca desse período. O medo é de que a pandemia tenha a situação controlada e que a escola retorne sozinha (sem o apoio da sociedade) e não consiga dar conta das lacunas (emocionais e cognitivas) deixadas pelo período pandêmico. Já o sonho é que se reúnam esforços para recuperar a educação, assim como estão sendo reunidos para as pesquisas para a contenção da pandemia. 

MARÍCIA FERRI

A diretora pedagógica do Colégio Farroupilha e coidealizadora da Escola de Professores Inquietos, Marícia Ferri, concluiu o primeiro painel da 9ª edição do Inteligência Coletiva. 

A diretora iniciou sua fala discutindo a palavra “permanência”, presente no tema geral do evento. Segundo ela, o termo aqui não deve ser entendido como aquilo que é imutável, mas ao que prevalece, pois a própria educação consiste em um processo de transformação dos sujeitos, sendo o currículo um caminho para esse processo.

Assim, Marícia convidou os presentes a olharem para o que é essencial, o que de fato permanece. Resgatou a importância dos professores que, mesmo na pandemia, readaptaram suas práticas para que os estudantes não tivessem prejuízo nas suas aprendizagens; Abordou a importância de uma aprendizagem ativa, mediada ou não pela tecnologia; falou sobre a necessidade de um trabalho que provoque a curiosidade dos estudantes e que os levem a desenvolverem a capacidade de resolução de problemas complexos, neste mundo cada vez mais conectado; necessidade de investimento na formação dos professores, salientando que, na pandemia, houve evidência da autoformação e de um trabalho colaborativo entre os docentes.  

TIAGO TAMBORINI

O psicólogo especialista no comportamento de crianças e adolescentes, Tiago Tamborini, abriu o painel de sábado e teve como missão falar sobre o eixo Autoconfiança. Logo no início de sua fala, esclareceu que este não é um tema abordado com unanimidade entre psicólogos, filósofos, educadores e outros estudiosos do assunto, mas que traria, ali, a sua perspectiva.

Segundo Tiago, ao falar sobre autoconfiança é preciso considerar três aspectos: que ela é um processo, que depende de estímulos, e que os estímulos precisam estar adequados às situações vivenciadas durante esse processo. O especialista disse, ainda, que é muito comum termos um olhar “on/off” sobre a autoconfiança: a pessoa a tem ou não tem, é ou não é. Mas, quando fazemos isso, cometemos um erro, pois desconsideramos o fato de que a autoconfiança é um processo e não uma característica inata.

Tiago, então, deu algumas dicas sobre como ajudar as crianças a desenvolverem autoconfiança e abordou alguns pontos que podem afetar essa construção, relacionando-os com as características da sociedade contemporânea. Entre os aspectos que podem dificultar o desenvolvimento da autoconfiança, está a ausência de lidar com frustrações, já que, muitas vezes, as famílias, na busca pela felicidade dos filhos, os privam de situações difíceis, mas essenciais para o crescimento.

Já entre as dicas estão o incentivo às diversas experiências da vida, com as devidas adequações e o reforço das conquistas das crianças e adolescentes. O psicólogo traçou um paralelo entre o desenvolvimento da autoconfiança e uma escalada ao Monte Everest, destacando que, antes de ir para montanha, é preciso treinar na academia. Assim, antes de estarem prontos para enfrentar grandes desafios, as crianças e os adolescentes precisam ser incentivados, pela família e pela escola, a superar os pequenos, do dia a dia.

FRANCIELLY RODRIGUES

Para falar sobre o eixo Curiosidade, a convidada foi Francielly Rodrigues, jovem cientista da cidade de Moju, no Pará, que ficou conhecida em todo o país após conquistar vários prêmios científicos com um projeto que utiliza caroço de açaí para a construção de casas, ajudando a solucionar dois problemas comuns de sua região: a insustentabilidade na produção do açaí e as condições inseguras de construção de algumas moradias. 

A adolescente, que hoje cursa Engenharia de Produção, é orientadora do Clube de Ciências de Moju, pesquisadora e cofundadora do o projeto A Casa de Açaí, falou sobre sua experiência de vida, destacando a importância da educação, do incentivo à pesquisa e do apoio familiar para alcançar seus sonhos.

Francielly contou que era uma criança muito curiosa e que adorava os livros. Aos oito anos, participou da sua primeira feira de ciências, aos 11, ganhou a primeira bolsa do CNPQ e, aos 17, foi destaque na FEBRACE – Feira Brasileira de Ciências e Engenharia, um dos mais importantes eventos científicos do país. A partir disso, conquistou premiações em outras feiras científicas, viajou pelo Brasil e conheceu os centros de pesquisa de Harvard e do MIT, nos EUA, aos quais ela chama de “minha Disney”. Uma parceria com a USP também foi estabelecida e segue firme no projeto A Casa de Açaí até hoje.

Para inspirar outras pessoas a alcançar seus objetivos, a jovem destacou a importância da criatividade, do foco, de encarar os erros como parte do processo de aprendizagem e do trabalho colaborativo. Ela também enfatizou o papel dos professores no desenvolvimento de crianças e jovens, destacando que eles precisam olhar para as necessidades e potencialidades de cada sujeito. 

GANDHY PIORSKI

O artista plástico e pesquisador nas áreas de cultura e produção simbólica, antropologia do imaginário e filosofias da imaginação, Gandhy Piorski, falou no Inteligência Coletiva sobre o eixo Imaginação. Dotado de uma linguagem poética, abriu sua fala dizendo que “o tema da imaginação é uma faculdade que nos enlaça com a vida, que nos faz ler a vida” e questionando: “Sem a possibilidade de um estado imaginativo, como olharíamos para a vida?”.

Ao longo de sua fala, abordou a importância da imaginação para a vida das crianças e adultos, destacando que a fase de maior relação com a imaginação é até os 14 anos de idade, mas que é na primeira infância (dos 0 aos 6 anos), quando se está desenvolvendo a linguagem, que a criança tem a imaginação com maior intensidade.

O especialista destacou, também, que a imaginação é a forma que a criança encontra de ler e de se relacionar com o mundo, para ela tão encantador, passando a dar novos significados a objetos que, para os adultos, já não despertam encantamento.

Gandhy explicou que essa vida imaginária é, também, matriz do pensamento lógico e bastante importante para o desenvolvimento da inteligência das crianças. E, portanto, defendeu o incentivo à imaginação: “precisamos, antes, do pensamento lógico, alimentar as crianças do sonho e da vida imaginária”.

LUCIENE TOGNETTA

Para abordar o eixo Empatia e Responsabilidade Social, fechando a manhã de sábado do Inteligência Coletiva, foi convidada Luciene Tognetta, que é professora do Departamento de Psicologia da Educação e pesquisadora na área de Psicologia, com ênfase em Desenvolvimento Social e da Personalidade.

A partir do questionamento inicial “Como formar pessoas autoconfiantes, criativas, imaginativas e também justas, solidárias?”, a pesquisadora desenvolveu sua fala, que teve, entre suas bases, o pensamento de Jean Piaget. Ela contou que, ao ser convidado para falar sobre educação internacional no pós-guerra, Piaget destacou que é a capacidade de pensar e de representar suas ideias que faz o ser humano sair do caos ao cosmos.

Para uma educação que favoreça essa construção de soluções aos problemas cotidianos, seja no pós-guerra ou em 2021, a professora ressaltou a importância de uma escola que incentive o pensamento, a comparação de possibilidades, a antecipação de consequências dos atos. De acordo com ela, se a educação não prepara o estudante para pensar amplamente, acaba formando meninos e meninas incapazes de sair do seu próprio ponto de vista, de formar imagens de transformação ou imagens que, de fato, levem a uma construção criativa.

Outro aspecto importante a ser considerado na educação é o fato de o ser humano ser um animal social, que se constrói na relação que tem com o outro. Assim, a escola precisa incentivar a convivência e promovê-la de forma saudável e ética, ajudando o estudante a perceber que ele tem valor, assim como o outro e todos os outros têm o mesmo valor.