ARTIGO: PROFESSOR SPAM OU INFLUENCIADOR?

PROFESSOR SPAM OU INFLUENCIADOR? COMO PROMOVER UMA APRENDIZAGEM MAIS ATIVA

26/02/2020

share buttons

Por Thuinie Daros

Co-fundadora da Téssera Educação, Head de Cursos Híbridos e Metodologias Ativas da Unicesumar EAD, gestora, palestrante e consultora. Já publicou diversos livros na área da educação, entre eles, A Sala de Aula Inovadora: estratégias pedagógicas para fomentar o aprendizado ativo (selo penso).


Carteiras enfileiradas, quadro-negro carregado de informações para copiar, professor transmitindo todo o conteúdo por meio de uma longa exposição. É quase impossível ler essas palavras e não voltar no tempo para os seus dias de escola, não é?

A verdade é que por mais que esses elementos ainda estejam fortemente presentes na maior parte das salas de aulas brasileiras, é importante reconhecer que o mundo vem mudando exponencialmente. Com isso, as instituições educativas devem ser capazes de promover a transformação em suas práticas pedagógicas por meio de uma educação contextualizada com a realidade e necessidades contemporâneas.

O ensino brasileiro é essencialmente transmissivo. O predomínio do uso de lousa, giz e papel, o professor como detentor do conhecimento, e o estudante inserido em um processo de memorização e reprodução por meio de baixa ou nenhuma participação, já não são suficientes para atender às necessidades das novas gerações e nem são consideradas abordagens capazes de acompanhar as evoluções do mundo atual.

Salman Khan, criador da Khan Academy – considerada a maior plataforma online de educação livre do mundo –, expõe que “(…) o velho modelo de sala de aula simplesmente não atende às nossas necessidades em transformação. É uma forma de aprendizagem essencialmente passiva, ao passo que o mundo requer um processamento de informação cada vez mais ativo” (KHAN, 2013 p. 09).

Consoante a isso, nossos estudantes, cada vez mais conectados, estão deixando de utilizar a caneta e o papel para a utilização de dispositivos móveis com recursos online e aplicativos. Desse modo, a exigência de um “professor do futuro”, com grande variedade de competências digitais, ferramentas e estratégias, além do pleno domínio dos conhecimentos técnicos, tem sido uma necessidade cada vez mais recorrente.

Mas é importante destacar que a inovação na sala de aula não se resume ao aparelhamento tecnológico, trata-se sobretudo da mudança genuína no papel do professor capaz de promover uma aprendizagem cada vez mais ativa. Em síntese, é a superação de um “professor spam” para um “professor influenciador”.

Utilizo o termo “SPAM” apenas para caricaturar aquele professor que utiliza como estratégia de aprendizagem somente o recurso da exposição. Você já tentou interagir com um spam? Então, não tem como! É só ele que comunica e, na maioria das vezes, nem nos preocupamos em compreender o conteúdo, logo descartamos, pois não nos desperta nenhum interesse, mesmo que possa ser interessante.  Já o termo “influenciador” é usado para profissionais que almejam um público fiel e engajado e que, em alguma medida, são capazes de exercer habilidade de influência na tomada de decisão dos seus seguidores, em especial, pela afinidade com o seu conteúdo. Esse profissional está sempre focado em conquistar mais adeptos as suas redes, por meio da criação de um relacionamento e qualidade da experiência.

Infográfico: Thuinie Daros (2021)

 

Criar interação e empatia, inspirar pelo conhecimento, promover mudança de mindset, ter uma postura colaborativa e de liderança e possuir um repertório diversificado de estratégias e recursos representam as competências essenciais

Por isso, assumir um papel de “professor influenciador” implica necessidade de rever a própria prática docente, cotidianamente, sendo necessária uma adequação do trabalho pedagógico de forma que passe a ser uma abordagem mais criativa e ativa com centralidade no estudante. Tal prática se dá por meio da promoção de alternativas pedagógicas que atendam às exigências da contemporaneidade por despertar o protagonismo, a problematização e a contextualização da realidade, ao viabilizar maior engajamento dos estudantes, pois, diante do problema real, examinam, refletem, relacionam e atribuem significado às suas descobertas.

Nesse sentido, as metodologias ativas são excelentes alternativas capazes de gerar maior aprendizagem devido à prática de seus princípios. Dentre as habilidades desenvolvidas por essa metodologia, temos o protagonismo estudantil, o trabalho em grupo e a resolução de problemas reais.

Destaca-se que propor soluções para problemas reais é algo verdadeiramente complexo. Assim, o estudante precisa ter uma base sólida para propor novas ideias, exercer a flexibilidade para ouvir críticas, lidar com a frustração e o fracasso, trabalhar com materiais diversos e sob diferentes condições, cumprir prazos, ter coragem para apresentar algo inusitado, ser disciplinado e trabalhar as habilidades comunicativas para convencer os demais sobre suas soluções ampliando seus argumentos. Caso o trabalho seja em grupo, precisa, ainda, aprender a lidar com o modo de ser dos seus colegas e direcionar os esforços do grupo para um objetivo comum. 

Por isso as metodologias ativas e imersivas são exemplos de práticas atuais que podem compor o planejamento do professor que visa proporcionar uma aprendizagem cada vez mais ativa. Algumas dessas práticas são: tecnologias digitais, realidade aumentada e virtual, jogos digitais, robótica, impressão 3D, atividades gamificadas, dinâmicas Steam e abordagens Makers.

Dessa forma, a utilização de estratégias que leve em consideração as necessidades do cenário atual podem ser mais eficazes e apresentar melhores resultados na compreensão, retenção do aprendizado e aplicação do conhecimento, uma vez que o estudante desenvolve mais competências e habilidades por meio de práticas interativas e colaborativas de ensino.